Turquia. PKK destrói armas no primeiro gesto simbólico do fim da luta armada

O PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão) deu início esta sexta-feira a um processo de desarmamento do grupo que luta há várias décadas pela autonomia do Curdistão. Numa ação simbólica, cerca de 30 combatentes atiraram espingardas para um caldeirão que foi depois incendiado. Este processo de desarmamento deverá estender-se ao longo dos próximos meses.

RTP /
Foto: Partido dos Trabalhadores do Curdistão via Reuters

Ao fim de quatro décadas de guerra com o Estado turco, num conflito que teve impacto em vários países do Médio Oriente e que provocou mais de 40 mil mortos, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão começou hoje a depor armas. 

Em Jasana, no Curdistão iraquiano, três dezenas de combatentes, incluindo quatro oficiais de alta patente, alinharam-se para colocar as suas armas num caldeirão, local onde as espingardas foram depois queimadas.

Foto: Partido dos Trabalhadores do Curdistão via Reuters

“Destruímos voluntariamente as nossas armas na vossa presença como um gesto de boa vontade e determinação”, adiantava um comunicado do PKK citado pela BBC. O ato em causa decorreu na presença de autoridades curdas, iraquianas e turcas.

Na reação a estes desenvolvimentos, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, afirmou esperar que a dissolução do PKK possa reforçar a segurança na Turquia e no “estabelecimento de uma paz duradoura na região”.

O PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão) é considerado um grupo terrorista não só na Turquia, mas também nos Estados Unidos, União Europeia e Reino Unido. No início da semana, o líder do PKK, Abdullah Ocalan, detido em solitária na ilha-prisão de Imrali desde 1999, considerava que esta era uma “transição voluntária da fase para o conflito armado para a fase de política e direito democráticos".

O conflito dura há várias décadas, com o PKK a procurar, por via das armas, o estabelecimento de um Estado curdo independente dentro da Turquia e, mais recentemente, a autonomia daquele povo. Os curdos representam cerca de 20 por cento da população turca.

Esta não é a primeira vez que se tenta alcançar a paz neste conflito. Em 2013, foi anunciado um cessar-fogo e o líder do PKK apelou à retirada de tropas do PKK do território turco. Dois anos depois, foi alcançado o acordo de Dolmabahce, que previa a garantia de direitos democráticos e linguísticos para os curdos.

Esse entendimento deixaria de vigorar com a eclosão de violência nas zonas de maioria curda, no sudeste da Turquia. Ancara atacou então bases do PKK, incluindo no norte do Iraque e também na Síria. Desde então, o Governo estabeleceu que só voltaria às negociações até que o PKK depusesse armas.

O processo que culminou na ação desta sexta-feira começou a desenhar-se há menos de um ano, em outubro de 2024, quando um líder nacionalista próximo de Recep Tayyip Erdogan, Devlet Bahceli, iniciou esforços para dissolver o grupo, admitindo até a possibilidade da libertação de Abdullah Ocalan.

O Governo de Ancara iniciou então negociações com o líder do PKK através do partido DEM, pró-curdo e o terceiro maior partido da oposição no Parlamento turco e em fevereiro deste ano, o líder do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) apelou ao fim da luta armada e à dissolução do grupo. 

"Todos os grupos devem abandonar as armas, o PKK tem de se dissolver. Peço que abandonem as armas e assumo a responsabilidade por este apelo", declarava então Öcalan.

Numa carta, Öcalan defendia que "o consenso democrático é o caminho fundamental" e sublinhando que a identidade curda já não é negada na Turquia e que houve "melhorias na liberdade de expressão".
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